O ambiente em torno de Jerusalém é austero e implacável:
ao oeste, montanhas rochosas com pouca água e, ao leste, um deserto
inacessível, com temperaturas abrasadoras na maior parte do ano. Viajar poderia
ser perigoso, por isso, a hospitalidade ao viajante era uma necessidade
permanente e um esforço sagrado. O Novo Testamento está cheio de imagens e
histórias de recepção de hóspedes, tanto de conhecidos amigos, como de
estranhos, acolhidos e transformados em hóspedes. Entre tribos nômades, o
hóspede está sob a proteção do anfitrião, aquele que garante segurança completa.
Os elementos importantes da hospitalidade incluem a oportunidade de oferecer
óleos aromatizantes para suavizar a pele e disfarçar os odores, lavagem dos pés
sujos, comida, abrigo, segurança e companhia.
Quando
Jesus envia discípulos à missão, eles devem se hospedar nas casas em que são
bem-vindos. A visão que Jesus tem de missão é impossível sem essa
reciprocidade, a recepção daqueles que são enviados (Mt 10.11; Mc 6.10; Lc 9.4;
Lc 10.7-8). Em caso de recusa da hospitalidade, os discípulos devem seguir
adiante.
As
muitas histórias de banquetes nos Evangelhos pressupõem a prática da
hospitalidade para eventos importantes e momentos de transição: por exemplo, o
grande banquete (Mt 22.1-10; Lc 14.15-24) ou a celebração da volta do filho
mais novo (Lc 15.22-32). Na perspectiva bíblica, esses banquetes abrem o
horizonte em direção ao reino do céu. Como a felicidade plena é imaginada – como
um banquete em que todos estão felizes e fartos (Lc 22.30), ou como a
celebração de um casamento (Ap 19.9)?
Jesus
mesmo é o importante hóspede nos Evangelhos. Há um modo errado de recebê-lo,
tipificado por Simão, o fariseu, que o trata com descuido, sem oferecer água
para a lavagem de seus pés, nem óleo para ungi-lo ou um gesto de bem-vindo,
enquanto a mulher “pecadora”, que entra sem ser convidada, o recebe
corretamente (Lc 7.36-50). Marta e Maria não oferecem a recepção perfeita, já
que nesse ambiente íntimo entre amigos, em que se deveria sentir o conforto
familiar, Jesus é levado a um lar onde há, por baixo da superfície, uma tensão
familiar.
Posteriormente,
Paulo e outros missionários itinerantes dependem da hospitalidade daqueles que
os recebem, enquanto viajam de cidade em cidade. A Ceia do Senhor era
celebrada, prioritariamente, ainda que não exclusivamente, em lares que se
tornariam centros de hospitalidade e evangelização. Em Filipos, Lídia, uma
comerciante de tecido de púrpura, é convencida pela pregação de Paulo e insiste
que ele aceite a hospitalidade da sua casa, que se tornará um centro de fé (At
16.14-15, 40). Na miraculosa libertação noturna de Paulo e Silas da prisão em
Filipos, o carcereiro, ele mesmo salvo do suicídio pela ação rápida de Paulo, responde
levando-os a sua própria casa, onde ele e sua família prestam socorro médico e lhes
dão alimento no meio da noite (At 16.29-34). Aqui, hospitalidade é a expressão
de um desejo de consertar os danos do passado e dar continuidade ao
relacionamento.
Os
ouvintes da Carta aos Hebreus são alertados sobre a importância da
hospitalidade: alguns, dessa forma, acolherem anjos sem o saber (Hb 13.2;
compare com Gn 18.1-15). Mas nem sempre as coisas dão certo. O autor de 3João 9
tem um problema de hospitalidade: a casa de Diótrefes não recebe os emissários
enviados pelo autor – não sabemos o por quê.
Até
o fim da Bíblia a hospitalidade é um assunto importante: pede-se que Laodiceia,
uma das sete cidades mencionadas em Apocalipse, receba o Jesus ressurreto como
hóspede que vem para o jantar (Ap 3.20). Eles o receberiam?
Carolyn Osiek é professora de Novo Testamento em Brite Divinity School. Autora e editora
de doze livros e muitos artigos. Anteriormente, presidente da Society of Biblical Literature.
Texto
original: "Hospitality in the New Testament": http://www.bibleodyssey.org/passages/related-articles/hospitality-in-the-new-testament.aspx
Tradução: Caio Peres
Tradução: Caio Peres
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